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“O que você faria se ficasse cego hoje?” É assim que Thiago Jucá, 25, aborda os visitantes da Campus Future. E ele parece ter a resposta.
O estudante de engenharia mecatrônica da Universidade Presbiteriana Mackenzie passou 2 anos e meio desenvolvendo o protótipo de uma prótese para cegos.
“Ao perceber que a tecnologia já estava disponível, mas que não havia um produto do tipo, eu decidi que precisava fazer isso acontecer”, conta. “E, caso um dia fique cego, estou garantido.”
Ele então começou a trabalhar com os materiais que tinha disponíveis: uma placa para protótipos de circuitos eletrônicos “que estava largada lá em casa” e um sensor infravermelho que tirou de um videogame.
Depois de ter investido cerca de R$ 5.000 do próprio bolso, o resultado é um aparelho que é amarrado na cintura do usuário e identifica obstáculos com um alcance de 3,5 m de profundidade, 4 m de largura e 1,8 m de altura.
Como comparação, uma bengala comumente usada por cegos pode chegar a 1,5 m de profundidade (dependendo da altura do usuário) e uma abertura de 1,2 m, que não é rastreada de forma constante.
Por enquanto, a engenhoca, equipada com um circuito Arduino, para protótipos rápidos, e uma bateria com autonomia de 8 horas, precisa ficar conectada a um laptop –dispensável quando Thiago conseguir uma placa adequada.
Fernando Ramos, professor do curso de design da Facamp (Faculdades de Campinas) se interessou pelo projeto. “Tenho um grupo de pesquisa de design para pessoas com deficiência e coisas assim é o que estamos procurando”, contou.
Ele aproveitou para testar o protótipo, mas diz ter sentido uma reverberação da vibração dos motores que dificultava entender de que lado estaria o obstáculo. No teste da Folha, o aparelho também reverberou.
“Eu me preocupei em fazer uma vibração que fosse mais perceptível do que calibrada”, explica Thiago. Mas o plano é estudar opções com motores menores, mais precisos, e até colocar mais motores para informar melhor ao usuário a localização do obstáculo.
“A ideia é dar mais autonomia para o cego”, diz. Com isso em mente, Thiago trabalha com uma plataforma de reconhecimento facial que vai dizer ao usuário, por meio de um fone de ouvido, quando um conhecido, cujo rosto já tenha sido salvo, estiver se aproximando.
A ideia ainda é usar a câmera para reconhecer cores. “Assim, a pessoa vai poder segurar uma camiseta em frente ao aparelho e perguntar qual é a cor dela”, explica o estudante.
Ele calcula que, para criar um protótipo mais refinado (menor, mais confortável para o usuário, com motores mais precisos, uma bateria com mais autonomia) sejam necessários cerca de R$ 6.000.
“Lógico que eu quero ver o Safenav [nome do produto] um dia nas prateleiras, mas ainda não fiz um plano de negócios. Eu entendo mesmo é da parte eletrônica, montar e programar”, diz.
Filho de engenheiro civil, Thiago nasceu em João Pessoa (PB), mas já morou no Peru, em Angola, no Equador e nos Estados Unidos. “Nos mudávamos para onde havia obras”, conta.
Hoje vive em São Paulo, onde estuda e tem uma start-up que faz próteses de baixo custo com uma impressora 3D. “Eu não sei parar quieto, já falei para a minha mãe que ela precisava ter trigêmeos de mim para ir um para cada área”, brinca.