Como mulheres cegas ou com baixa visão, a maior expectativa a nosso respeito é que possamos nos cuidar, caso ninguém possa fazê-lo por nós. O cenário perfeito, para muitas famílias, ainda é aquele no qual estejamos protegidas e precisando fazer o menor número possível de tarefas. Na falta desse cenário, que possamos nos cuidar para sermos independentes, apesar de nossas limitações. Essas limitações sempre aparecem no discurso para destacar que, embora possamos chegar longe, nunca deixarão de existir grandes ressalvas.
Por sermos mulheres cegas ou com baixa visão, muitas de nós têm a sexualidade negada: somos impedidas de conhecer rapazes, de namorar, raramente somos vistas como parceiras em potencial e, menos ainda, como mulheres integrais. Esperam de nós a acomodação e o recato. Afinal, por não enxergarmos as “coisas feias da vida”,
muitos pessoas supõem que estamos delas distanciadas. É o tal discurso do “o que os olhos não veem…”
Daí por que, com raras exceções, a maternidade para nós dificilmente é comemorada. Nossos filhos são vistos como vítimas que precisam ser salvas de nossa suposta incompetência indiscutível. Antes de ocuparmos os espaços, precisamos cavá-los, cavar um espaço amplo bastante para caber nossa força, nossa ousadia, nossa perplexidade, nossa barriga grande, nossas crias.
Apesar de nos infantilizarem e, até mesmo, hostilizarem, acreditamos que podemos ser mais que incríveis por cuidarmos de nós mesmas. Podemos assumir a responsabilidade por um ser inicialmente indefeso e atuar de forma consciente, física e emocionalmente, para que ele possa tornar-se capaz de exercer a cidadania com dignidade e consistência.
Ao nos tornarmos mães – daquelas que têm instintos, daquelas que vencem as próprias inseguranças comumente, com pouquíssimos apoios e sob o descrédito de muitos, por vezes, até dos mais próximos –, afirmamos nossa condição de humanidade, integridade sexual, física e emocional.
Somos mulheres cegas ou com baixa visão e estamos vivas! Somos mulheres cegas ou com baixa visão que também fazem a vida girar!
Quem somos? Quantas somos? Onde estamos? Não existem dados precisos sobre isso. Entretanto, a ONCB, Organização Nacional de Cegos do Brasil, entidade nacional de luta pela garantia e defesa de direitos das pessoas com deficiência visual, vem, com muito orgulho e comprometimento, abraçar a todas e cada uma dessas mulheres e mães que, apesar de tanto e, ao mesmo tempo, de tão pouco, aceitaram o desafio multifacetado que é a maternidade.
Que esse dia seja pleno de reflexões e que nunca falte o amor, nunca falte a coragem de continuar lutando para que o capacitismo interfira cada vez menos; para que seus filhos, filhas e sua família tenham a melhor história possível… Porque nós da ONCB sabemos que a cegueira e baixa visão fazem parte das suas vidas, mas não as definem.