A Organização Nacional de Cegos do Brasil (ONCB) junta-se às milhões de pessoas com deficiência visual do mundo e comemora hoje os 212 anos do nascimento de Louis Braille, além do Dia Internacional do Sistema Braille.
Sarah Barreto Marques, diretora de administração e finanças da ONCB, é uma dessas pessoas que se considera uma grande entusiasta desse recurso e não dispensa o uso do sistema no papel ou digital. Para homenagear o precursor deste método de leitura e escrita, acompanhe, abaixo, a história, a evolução e o futuro do braille.
História de Louis Braille e Criação do Sistema de leitura e escrita para cegos
Louis Braille, criador do Sistema Braille de escrita e leitura para pessoas cegas, nasceu em 4 de janeiro de 1809, na cidade francesa de Coupvray, aproximadamente 45 km de Paris. Aos três anos de idade, enquanto brincava na oficina de seu pai, o garoto feriu o olho esquerdo com um objeto pontiagudo, o que provocou uma grave hemorragia. O ferimento tornou-se uma infecção generalizada que atingiu ambas as córneas do menino e, dois anos depois, ele ficou cego.
Foi somente aos 10 anos que ele se tornou aluno do Instituto Real dos Jovens Cegos de Paris, a primeira escola para pessoas com deficiência visual do mundo. Diante das dificuldades enfrentadas em seus estudos, começou a pensar na possibilidade de desenvolver um sistema de escrita para a população cega. Para isso, o jovem teve como inspiração um método criado por Charles Barbier de la Serre, capitão de artilharia do exército de Louis XIII. Consistia em um conjunto de sinais em relevo que, quando combinados, transmitiam suas ordens militares para os soldados durante a noite.
Quando completou 15 anos, o adolescente concluiu seu sistema, com a criação de um alfabeto formado por 63 combinações que representavam todas as letras, além de acentuação, pontuação e sinais matemáticos.
Modo de escrita e leitura do Sistema Braille
Inicialmente, a escrita era feita somente de forma manual, com o uso da reglete e da punção, instrumentos também desenvolvidos por Louis Braille. Em 1892, houve um avanço no método de escrita, quando o americano Frank H. Hall criou a máquina Braille, composta por sete teclas que, assim como a reglete, formam diferentes combinações e representam letras, números e outros sinais.
Feita apenas de forma tátil, da esquerda para a direita, a leitura Braille também alcançou alguns avanços ao longo do tempo. Atualmente, além da leitura no papel, também é possível ler utilizando uma Linha Braille, um equipamento que pode ser conectado ao computador ou celular e que exibe a informação contida na tela.
Evolução do Sistema Braille
O Sistema se espalhou pela Europa e chegou à América ainda no século XIX, mas foi somente na metade do século XX que ele ficou conhecido também em países africanos e asiáticos. Com o empenho de muitos especialistas, tornou-se um sistema universal de leitura e escrita para cegos, sendo adaptado a todos os alfabetos, como o chinês, o árabe e o guarani.
Ao longo do tempo, também foi adaptado para se aplicar a todas as áreas do conhecimento. Hoje, as combinações criadas permitem, por exemplo, a leitura de tabelas, gráficos, partituras musicais, equações matemáticas e estruturas químicas.
Para Cecília Maria Oka, pedagoga especializada na área da deficiência visual e coordenadora do grupo de jovens e adultos da Laramara – Associação Brasileira de Assistência à Pessoa com Deficiência Visual, essa é também uma ferramenta que proporciona autonomia no cotidiano de pessoas cegas. “Hoje em dia, nós temos Braille nas embalagens, nas placas, na sinalização, nos mapas táteis, em listas, cardápios. Existe a possibilidade da pessoa cega ter acesso ao seu estrato bancário, ter acesso às informações quando vai em algum espaço de cultura ou lazer”.
Chegada do Sistema Braille ao Brasil
O Brasil foi o primeiro país da América Latina a adotar oficialmente o método, com a inauguração do Instituto Imperial dos Meninos Cegos, na cidade do Rio de Janeiro, no ano de 1854. Foi nessa escola, na década de 1870, que teve início a produção de livros em Braille no país. As obras, entretanto, eram destinadas apenas aos estudantes do colégio. Hoje a entidade se chama Instituto Benjamim Constant.
Em 1946, surgiu a Fundação para o Livro do Cego no Brasil, que impulsionou a produção de textos neste formato e os distribuiu, aos poucos, para todas as regiões do país.
A Comissão Brasileira do Braille, vinculada ao Ministério da Educação, foi criada em 1999. Esse órgão foi responsável pela elaboração e difusão de documentos como a Grafia Braille para a Língua Portuguesa, as Normas Técnicas para a Produção de Textos em Braille e a Grafia Química Braille para Uso no Brasil.
O Sistema Braille e as Novas Tecnologias
Segundo Antônio Muniz, ex-presidente da ONCB e membro da Comissão Brasileira do Braille, “as novas tecnologias surgiram, nos últimos anos, para complementar esse sistema”. Apesar disso, Munis considera que “existe uma falta de capacitação de professores para manusear equipamentos tecnológicos que auxiliam na educação de pessoas cegas, como as impressoras Braille e a linha Braille, por exemplo”.
Futuro do Sistema Braille
De acordo com Regina Fátima Caldeira, coordenadora de editorial e revisão da Fundação Dorina Nowill para Cegos e membro do Conselho Mundial do Braille, “para as pessoas cegas, principalmente aquelas que nascem cegas ou perdem a visão na primeira infância, a única maneira de ter acesso, de fato, à escrita e à leitura, é por meio do Sistema Braille”.
Regina acredita que o futuro da criação francesa depende das academias, especialmente aquelas responsáveis pela preparação de professores, que devem dar ao ensino do Sistema Braille o espaço de que ele realmente necessita para que seja entendido e ensinado; dos governantes, que devem garantir a oferta de livros didáticos de qualidade às crianças cegas, adaptados de acordo com as suas necessidades; e dos especialistas e estudiosos, para que possam mantê-lo sempre em dia com a evolução da escrita em todas as áreas do conhecimento.
“Se cada um desses segmentos assumir de fato a sua responsabilidade, o Braille poderá ser oferecido e aproveitado em toda a sua genialidade, como um sistema que por quase 200 anos vem permitindo que milhões de pessoas cegas vivam com independência e autonomia”, finaliza Regina.
Podemos dizer, portanto, que Louis Braille foi, com toda essa bagagem, uma das personalidades mais icônicas do mundo, com um legado semelhante ao deixado por Johannes Gutenberg, criador da máquina de impressão tipográfica em 1430.
Louis Braille Faleceu em 6 de janeiro de 1852, na cidade de Paris,
vítima de tuberculose. Anos mais tarde, seus restos mortais foram
transferidos para o Panthéon de Paris, local onde estão enterradas
outras pessoas homenageadas pela França.